O sol refletiu uma triste cruz
ele fechou os olhos para não ver
na parede a imagem à meia-luz
cena que ele preferia esquecer
Mas a memória é bicho traidor
e todos os dias dessa pobre vida
ele lembra daquela cena de dor
que na sua mente foi esculpida
O garoto caído na rua, morto
sangue jorrando, cor escarlate
o pai velava seu filho, absorto
um cachorro distraído, só late
Ele sempre vai lembrar do dia
em que viu o seu irmão no chão
e de um reflexo da cruz da abadia
cenário de um lastimável panteão
Na sua mente, como numa encenação
ficou aquela imagem da cruz no muro
seu pai ali parado, sem qualquer reação
e o corpo de seu irmão já sem futuro.
Claudia Fernandes
12 de junho de 2007