Estava pegando a estrada do Sertão
Por um momento sentia frio no calor
Salvador era a minha incerta direção
Será que iria encontrar o meu amor?
O céu era belo, claro, nublado e azul
Parecia que queria me sussurrar algo
A paisagem, os cactos, o rio e o teiú
Conflitos entre o servo e seu fidalgo.
Não ouvia bem o que me murmurava
Aquilo soava tão distante, até difuso
A tristeza vinha, me fazia de escrava
E meu mundo ficava deveras confuso
Referia-se, então, o imponente céu
Ao amor que não seria correspondido
Ou à realidade deturpada num painel
Deste país cada dia mais esquecido?
Acabei a viagem e acho que descobri
O que afinal o céu, inquieto, me dizia
Falava ele sobre o amor que não vivi
Ou um alô para acordar a cidadania?
O meu amor já não morava mais aqui
Já um tempo mudado de cidade havia
Aquele amigo céu tentava me prevenir
E agora um infeliz vazio em mim jazia!
Agarro-me a outra hipótese suscitada
As novas viagens nunca serão iguais
Um novo olhar, uma atenção apurada
E a partir daí, a tola alienação jamais!
Claudia Fernandes.
06 de abril de 2010.